Um sítio em Lagoa Santa, na região metropolitana de BH, para viver com o marido, dois dos três filhos e a nora. Esse é o sonho que a aposentada Marli Ferreira do Nascimento, de 65 anos, moradora do bairro Sagrada Família, na região Leste da capital, pretende realizar se ganhar na Mega da Virada, concurso da Caixa Econômica Federal (CEF), que neste ano vai pagar o maior prêmio da história – R$ 570 milhões em sorteio a ser realizado no domingo (31).
Marli não quer ser “riquíssima”, como diz, e sim viver bem os próximos anos depois de uma vida de trabalho – desde os 12 anos de idade –, iniciando em fábrica de calçados, passando por faxinas e encerrando como recepcionista na Unidade de Atendimento Integrado (UAI) Praça Sete, no centro de BH, antigamente chamada de “posto Psiu”, onde aposentou.
“Além do sítio, eu faria um bom plano de saúde. O SUS me atende muito bem, mas não custa ter, né?”, acrescenta ela, que há uma década aposta semanalmente na loteria.
O sonho de Marli, de ganhar na Mega da Virada, é o de milhões de brasileiros. A Caixa não havia divulgado o número de apostas feitas para o concurso, mas só em 2022 foram 435,2 milhões. E, não à toa, mineiro tem fama de pé-quente. O Estado já teve ganhadores em 49 sorteios da Mega-Sena desde que o prêmio foi criado, em 1996. O número coloca Minas Gerais em segundo lugar no ranking do Brasil, atrás apenas de São Paulo, que teve vencedores 106 vezes, de acordo com a Caixa.
Só neste ano, seis mineiros levaram mais de R$ 265,5 milhões em prêmios da Mega-Sena. Já em relação ao sorteio da Virada, houve mineiros ganhadores em 4 das 11 premiações entre 2012 e 2022.
Mas, apesar da sorte dos mineiros, ficar milionário assim, por meio de loteria, é mais difícil do que se imagina. A probabilidade de acerto é de 1 em 50 milhões na Mega-Sena, com uma aposta de seis números, ao custo de R$ 5. “Esse cálculo é feito considerando todas as diferentes possíveis maneiras que seis números podem ser escolhidos entre os 60 disponíveis”, explicou Leandro Rêgo, professor do Departamento de Estatística e Matemática Aplicada da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Segundo ele, considerando a participação em um único sorteio da Mega-Sena, a única maneira de aumentar as chances de ganhar é fazendo mais apostas, como também sugere a própria Caixa. “Para tal, participar de bolões é uma boa estratégia. Porém, nesse caso, o valor do prêmio é rateado entre os participantes”, disse Leandro Rêgo.
Vários números em aposta única ou muitos jogos?
Para aumentar as chances de levar a Mega-Sena, o melhor é investir na escolha de vários números em um mesmo cartão ou jogar vários cartões com seis números? De acordo com Gilcione Nonato Costa, professor de matemática da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), isso não faz diferença quando o objetivo é acertar o prêmio principal. Porém, quando o apostador está interessado em fazer a quina ou a quadra da Mega-Sena, as coisas mudam.
“Jogando sete cartões, as chances de acertar a quadra ou a quina são maiores do que fazer um cartão com sete números”, exemplificou. Vale lembrar que a chance de ganhar na Mega-Sena com um jogo simples com seis dezenas é uma em 50.063.860. Com sete dezenas, a chance é uma em 7.151.980. (Raíssa Pedrosa)
Bolões. Segundo a Caixa Econômica, uma forma de o apostador aumentar suas chances é participar de bolões. Com eles é possível fazer um número maior de jogos e apostar mais números em um mesmo jogo sem aumentar tanto o valor gasto.
O que fazer? Se você ganhar a Mega da Virada ou outra aposta, o melhor é quitar todas as dívidas primeiro, segundo o economista Fernando Sette Junior. Se não tiver débitos, jogue todo o dinheiro (ou, pelo menos, entre 30% e 50% do total) na poupança.
É vício?
Jogos de loteria não são recomendados para pessoas com predisposição para dependências químicas, como álcool, tabaco e cocaína. “Essas pessoas têm um risco aumentado para dependências não químicas, como jogos de azar, loteria e masturbação”, afirmou o psiquiatra Bruno Brandão Carreira. A expectativa de ganhar um jogo, segundo ele, gera uma explosão de dopamina (um dos hormônios da felicidade), que faz a pessoa querer jogar mais e mais, independentemente do resultado.
Para saber se uma pessoa está dependente, é preciso avaliar a frequência, a intensidade, a duração, o sofrimento e o prejuízo. “A pessoa começa a jogar e perde o controle, sofre com aquilo, faz dívida. Isso atenta para uma possível dependência não química”, encerrou Carreira.
Outro lado. A Caixa informou que segue diretrizes internacionais para o jogo responsável, como impedir que menores de 18 anos joguem e alertar sobre os danos relacionados aos jogos. Para cada R$ 1 apostado, cerca de R$ 0,48 são investidos em educação, saúde, esporte e outras áreas.
Fonte: O Tempo. Foto: Reprodução/ Pixabay