Vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), Geraldo Alckmin (PSB) teve protagonismo no primeiro ano de governo Lula. Mas não foi nos debates políticos ou nas ações de governo que ele se destacou. O vice-presidente ganhou espaço nas redes sociais.
A presença de Alckmin na internet era discreta, mas mudou significativamente em 2023 com a escolha de produzir memes compartilhando os feitos do governo federal de forma bem humorada e extravagante.
A postura inusitada do político, até então conhecido como “picolé de chuchu” pela falta de carisma, atraiu a atenção dos internautas nos últimos meses.
Em seus posts, o vice-presidente aparece interagindo com personagens de Harry Potter, Star Wars, Game of Thrones, Meninas Malvadas, Disney, Marvel, dentre outros.
Ou conversando com celebridades da música, como Paul McCartney e o grupo ABBA.
Em uma publicação, Alckmin aparece até “desvendando mistérios” na série Scooby Doo.
Confira o “top 10″ posts de Geraldo Alckmin em 2023, abaixo.
“Picolé de chuchu”
Alckmin ficou popularmente conhecido como “picolé de chuchu” quando era governador de São Paulo – cargo que exerceu entre 2001-2006 e 2011-2018.
O apelido, dado pelo humorista José Simão, era devido ao estilo considerado “insosso” e “sem graça” do político, como disse o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Não é à toa que esse governador (Geraldo Alckmin) tem apelido de ‘picolé de chuchu’, porque é uma coisa insossa, como comida sem sal”, disse Lula durante as eleições de 2014.
Lula e Alckmin sempre foram adversários políticos ao longo da carreira, inclusive tendo disputado o segundo turno das eleições presidenciais de 2006.
O candidato do PT conquistou a reeleição, mas durante a campanha não faltaram troca de ofensas entre os políticos, com estilos opostos.
Enquanto Lula sempre foi conhecido pelo “carisma” e sua habilidade de se comunicar com as massas, o “tucano” Alckmin era discreto, com perfil mais técnico e moderado.
Anos depois, eles surpreenderam grande parte do eleitorado ao dividir chapa na campanha presidencial de 2022. Alckmin trocou o PSDB pelo PSB para viabilizar a candidatura.
Para selar a aliança, Lula compartilhou o vídeo de uma receita de “Lula com chuchu”, no mesmo dia que nomeou o “companheiro Alckmin” como seu vice.
O prato mostra a versatilidade do ingrediente, tanto na culinária quanto na política. Apesar do sabor neutro, o chuchu pode compor receitas de doces ou salgados, sendo uma das frutas mais populares do Brasil.
Era um sinal que as desavenças entre Lula e Alckmin tinham ficado no passado.
A aliança que unia um político de perfil liberal e conciliador com o ex-sindicalista, que se tornou a maior figura da esquerda brasileira, tinha como bandeira “a defesa da democracia” contra a reeleição de Bolsonaro.
Juntos, eles derrotaram o ex-presidente no segundo turno das eleições, e a presença de Alckmin foi considerada importante para a vitória, com uma vantagem apertada de 50,9% a 49,1%.
A diferença de apenas 1,8% dos votos é a menor já registrada na história das eleições presidenciais brasileiras, desde o início da República.
O ex-tucano ajudou Lula a “moderar” seu discurso e conquistar uma parcela mais conservadora do eleitorado.
O livro “A biografia do abismo” (2023), de Felipe Nunes e Thomas Traumann, destaca como a adesão de liberais de centro e centro-direita, que geralmente não votavam no PT, foi decisiva para a vitória da chapa Lula-Alckmin.
A pesquisa identifica uma “calcificação na polarização política brasileira”, que possibilita que um grupo pequeno de eleitores (cerca de 3%) seja determinante no resultado das eleições.
A conquista mudou não só a história da democracia brasileira, mas também a presença de Alckmin nas redes sociais, que são cada vez mais importantes para a comunicação do governo.
“Rei dos memes”
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sempre manteve o domínio em relação à esquerda nas redes sociais.
A presença do ex-deputado do “baixo clero” na internet é considerado um fator determinante para sua eleição à Presidência da República.
A estratégia digital ajudou Bolsonaro a conquistar novos públicos e ter relevância nacional, apesar do pequeno protagonismo no Congresso Nacional.
Nas eleições 2018, Bolsonaro já tinha o maior engajamento nas redes sociais entre todos os candidatos – inclusive Geraldo Alckmin, que concorria à presidência pela segunda vez pelo PSDB.
Mesmo com um menor tempo de rádio/TV, Bolsonaro conquistou a presidência no segundo turno contra Fernando Haddad (PT), com uma vantagem de 55,13% a 44,87%.
Alckmin, que tinha o maior tempo de rádio e TV dentre todos os candidatos, saiu derrotado com apenas 4,76% dos votos válidos, no primeiro turno.
Esse foi o pior desempenho de um candidato do PSDB na história das eleições presidenciais brasileiras e sinalizou a crescente importância das redes sociais nas campanhas políticas.
Talvez por ter experimentado a rejeição do eleitorado em 2018, o atual vice-presidente mudou a sua estratégia digital durante o governo Lula, se tornando o “Rei dos memes” que arranca risadas na internet.
A sua comunicação nas redes sociais é mais descontraída e voltada para o público jovem, pouco familiarizado com a figura de Alckmin.
Nos posts, o vice-presidente é chamado de “Dr. Geraldo” e, constantemente, dá “conselhos” para figuras do universo pop, usando o meio para divulgar ações e conquistas do governo federal.
A estratégia se diferencia da postura digital do presidente Lula (PT) e de outros ministros do governo – como Fernando Haddad, Rui Costa, Flávio Dino, Marina Silva e Simone Tebet – que adotam um comportamento mais formal nas redes.
Dentre as figuras do primeiro escalão do governo, Alckmin só fica atrás do presidente Lula (PT) e dos ministros Fernando Haddad (PT) e Marina Silva (Rede) em número de seguidores nas redes sociais: somando Instagram, Facebook e X (ex-Twitter). Confira na tabela abaixo!
Top 10 posts Alckmin nas redes sociais em 2023:
Star Wars: “Lula Skywalker” contra-ataca o “Custo Brasil”
“Dr. Geraldo” explica ao bruxo Harry Potter a diferença entre magia e tecnologia, no contexto do lançamento do programa “Brasil Mais Produtivo” pelo MDIC.
“As Poderosas”, do filme “Meninas Malvadas” (2004), chama Lula e Alckmin para um rolê em um carro elétrico, no contexto da descarbonização dos veículos a diesel.
“Dr. Geraldo” mostra a Daenerys, da série Game of Thrones (2011-2019), o “dragão da inflação” indo embora do Brasil, após a queda de juros anunciada pelo Banco Central.
Alckmin permite o herói da Marvel, Hulk, comemorar os resultados do “desenvolvimento sustentável” alcançado pelo governo Lula.
Alckmin anuncia a Paul McCartney, ex-Beatle, que o melhor do governo ainda está por vir: “a música não para”.
Ao lado do grupo sueco ABBA, autor do hit “Dancing quuen”, Alckmin mostra a “mágica” envolvendo os negócios entre São Paulo e Suécia.
No papel de Fred, da série Scooby Doo, Alckmin “desvenda o mistério” da queda do desemprego no Brasil em 2023.
“Dr. Geraldo explica a Mickey Mouse, do filme “Aprendiz de Feiticeiro” (1940), da Disney, que “magia” significa “fechar bons negócios”, no contexto CEO Fórum entre Brasil e EUA.
Lula afirma a Alckmin que “foguete não tem ré”, ao receber a notícia do vice que o Brasil atingiu o maior saldo comercial desde a década de 1980.
Ranking das figuras do governo Lula com maior número de seguidores nas redes sociais (somando Instagram Facebook e Twitter):
- Lula (PT): 27,3 milhões de seguidores
- Fernando Haddad (PT): = 6,8 milhões de seguidores
- Marina Silva (Rede): 5,2 milhões de seguidores
- Geraldo Alckmin (PSB): 3 milhões de seguidores
- Flávio Dino (PSB): 2,8 milhões de seguidores
- Simone Tebet (MDB): 2,7 milhões de seguidores
- Camilo Santana (PT): 2,2 milhões de seguidores
- Silvio Almeida: 1,6 milhões de seguidores
- Paulo Pimenta (PT): 1,4 milhões de seguidores
- Rui Costa (PT): 1,5 milhões de seguidores
- Anielle Franco: 863 mil de seguidores
- Wellington Dias: 459 mil de seguidores
- Nísia Trindade: 295 mil de seguidores