O procurador regional da República Ubiratan Cazetta, ex-presidente da Associação Nacional de Procuradores da República (ANPR) no biênio 2023–2025, fez um balanço de sua gestão à frente da associação e ressaltou a necessidade de atuação conjunta de diversos órgãos para enfrentar o crime organizado no Brasil.
Em entrevista à Rádio Itatiaia, ele avaliou a criação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) nacional como um elemento importante, mas não suficiente por si só.
“O enfrentamento efetivo só ocorre quando sociedade, Ministério Público, Judiciário e forças de segurança trabalham de forma coordenada e racional, visando estrangular financeiramente essas organizações”, afirmou ele.
“O Gaeco nacional, com outras medidas, entra para discutirmos e para reconhecermos que o modelo atual não dá conta da resposta aos desafios da criminalidade e que nós precisamos atuar de forma racional, de forma coordenada para que possamos atingir o estrangulamento financeiro dessas atividades, que ao fim e ao cabo é o que garantirá o enfraquecimento da criminalidade organizada”, avaliou.
A criação do Gaeco Nacional era debatida desde 2019, mas sua criação só foi aprovada em 4 de fevereiro de 2025.
Denúncia contra Bolsonaro
Questionado sobre a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra os envolvidos na suposta tentativa de golpe de Estado envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro, Cazetta disse considerar que o documento é isento e o trabalho da PGR foi técnico.
“A denúncia segue estritamente indícios coletados na investigação, sem espaço para paixões ou definições políticas. Esse rigor técnico é fundamental para que o debate público sobre provas e fatos clarifique se houve, ou não, tipificação criminal”, disse ele.
A denúncia da PGR tornou o ex-presidente réu por cinco crimes, entre eles golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
Conexão política
Cazetta se despediu ontem da presidência da ANPR, quando transmitiu o cargo para o procurador José Schettino. A cerimônia de posse da nova diretoria, realizada em Brasília, foi marcada pela homenagem prestada ao senador Rodrigo Pacheco (PSD), ex-presidente do Congresso Nacional.
De acordo com o procurador, o reconhecimento de agentes públicos que atuam com visão de futuro, longe dos extremos partidários, fortalece as instituições democráticas. “Pacheco sempre soube ouvir e construir pontes, mesmo em meio às divergências. É a política, afinal, o mecanismo legítimo de decisões sociais”, avaliou.
Leia mais: Pacheco crítica ‘espetacularização’ e políticos que se rendem às redes sociais
À frente da ANPR, Cazetta defendeu investimentos na valorização das carreiras do Ministério Público e na ampliação do papel do órgão no combate ao crime organizado. Ele lembrou que, ao longo de sua gestão, buscou aproximar procuradores de parlamentares e ampliar as discussões sobre compliance e transparência. Para o ex-presidente da associação, esse esforço contribui diretamente para elevar a eficácia das investigações e dar maior visibilidade ao trabalho do MPF junto à sociedade.
O ex-presidente da ANPR concluiu ressaltando que a atuação preventiva do Estado depende não apenas de leis mais duras, mas também de cumprimento rigoroso das normas por parte das empresas e cidadãos. “Sem informações precisas e sem cooperação institucional, qualquer legislação perde eficácia”, advertiu.